sábado, 26 de novembro de 2022

O Longo Luto por morte de um Messias!

 


Desde o segundo turno das eleições de 2022, estão acampados diante de quartéis ou bloqueando estradas, e de verde e o amarelo pedem “Intervenção militar!” Em comum, a inabalável fé num messias. E a negação — do resultado de eleições, da condenação ou morte do seu líder, do seu capitão, do seu salvador. Nunca chegam a formar multidões — talvez daí o empenho em fazer tanto barulho.


São pessoas que se desconectaram de si mesmas e embarcaram num delírio coletivo. Não necessariamente por desinformação ou déficit cognitivo, mas para se congregar no seio de uma ficção compartilhada. Para ter a sensação de pertencimento, de estar do lado do Bem. E suprir sua grande carência — e de todo ser humano: a de amparo. Funciona para qualquer seita, ou  religião.


Em linguagem de autoajuda: deixam de ser gota para se sentir oceano. Não sabem que, nessa mudança, passam de sujeito a objeto, tornando-se manipuláveis: a permanência no grupo implica investimento psíquico incessante. Paga-se um boi para entrar e uma boiada e meia para tentar sair do rebanho.


São gente — só que, no momento, impermeável a argumentos. Como os "amigos" que entopem a nossa caixa postal com notícias falsas, falsos alarmes, teorias conspiratórias. Aponto o erro, encaminho o desmentido — em vão. Daí a pouco recomeça tudo, numa amnésia voluntária. Pessoas até outro dia bastante sensatas, mas que marcam território com bandeiras na janela (de casa ou do carro), cantam o Hino Nacional no portão de algum quartel, rezam em torno de pneus. Não refletem, agem reativamente. Ao domínio cultural das esquerdas, respondem com o orgulho da tosquice, a celebração anticiência.


Os “patriotas” infernizam a vida de quem precisa viajar ou transportar sua carga e causam estragos à economia, ao convívio civilizado, à democracia.


Vai ser um desafio trazê-los de volta ao diálogo. É longo e penoso o luto de um messias.

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