terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A fé dos outros


Sei que você e outros amigos jogam neste time. Pena que são minoria. 

No meu time de ateus somos poucos mas aparentemente coesos. Como não temos fé abraçamos a luta sem muita oposição entre nós. Sem disputar qual Deus ou santo é o melhor. Ou concluir que só existe um Deus e que o resto não interessa mas apenas fazer o bem aos "semelhantes". Acredito ser vantajoso isso. Por outro lado sofremos desconfiança de uma galera da fé que nos trata como aliados do diabo.

Numa parábola estamos no mesmo barco eu remando e você tomando conta das velas. O problema está no leme que dizem estar nas mãos de Deus. Eu olho pro timão e o vejo sem ninguém.

Velejar com quadrante e astrolabio não é o meu forte pois acredito em sonar e GPS. Os riscos são menores para esse humilde navegador que corre riscos entre penhascos e icebergs mas não abre mão do ceticismo e da ciência.

A ciência metafísica de Aristóteles nunca me interessou mas somente a razão. 

Minha cabeça diz assim pra mim. De que importa saber de onde vim? Importa mais para onde estou indo. E quem me diz para onde vou deve ser eu. Eu ou outro qualquer que habite em mim. Um eu que possa conversar e examinar. Um eu envolvido nos conflitos e sob renovadas direções. Um eu inacabado e aberto para o futuro sem medo de ser feliz. Um eu sem culpa e sem punição. Um eu dramático e cômico. Um eu incompreendido e outro previsível seguidor de regras não convencionais. Um eu da balbúrdia!

Um eu que desconhece todas variáveis, que desconfia e duvida. Um eu que tenta entender o sentido das coisas. Um eu que procura entender conceitos, refaze-los e adapta-los ao mundo que pretendemos transformar. Um eu que poderia ter vindo do final do século XVI portando informações daquela realidade onde a ciência estava sequestrada pelo catolicismo.

Um retorno no passado para entender sua extensão ao presente onde cristãos do mundo inteiro se colocam em dúvida à ciência. Seria a mesma dúvida que me é tão cara? Ou não se trata de dúvida mas sim de negação pelo desconhecido? Não há livro de cabeceira de física ou química. O livro de cabeceira é um da história de povos que deram os primeiros passos em busca da verdade e com ela estabelecer quem está com ele e qual nosso destino. O livro das relações interpessoais que elucida quem está acima e abaixo das pretensões divinas. Afinal muitos que duvidam da ciência são os mesmo que não duvidam da fé? 

A fé não se submete à dúvida para tranquilidade de muitos que a professam.

A fé trás esperança e afirma os sentidos de verdade e da mentira que moram dentro de todos. A fé ordena e discrimina poderes tanto dentro da família quanto na sociedade.

A fé não deve ser submetida à dúvida ao contrário da ciência.

A fé é remédio testado desde sempre.

Aos céticos ou aqueles que caminham perto do ceticismo a fé torna- se placebo cujos resultados do estágio três dormem nas entrelinhas dos grandes livros que tem respostas para tudo na vida é na morte. Não se divulgam os fracassos da fé pois eles são esperados pela margem de erro. As pessoas são diferentes e por isso a fé não funciona para alguns. Não sabemos se é definido pela genética ou se adquire no meio onde se vive. 

A fé que não possuo dá estabilidade a quem as tem. Estar estável faz bem para os eus que se debatem dentro da gente.

Eu estou sempre à mercê dos infortúnios e sem alguém superior para me ajudar. Estou só num mundo onde os jacarés me esperam em cada esquina, prontos para devorar meu corpo e minhas idéias profanas.

Ao contrário de armas de fogo a fé não se compra e acredito não existe para eliminar os que pensam diferente.

Por isso e por tantas outras coisas que acredito em meus amigos de fé.

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