quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Absurda distração

 




Tenho pensado em você. Sei que mais ninguém entende porque eu não exclui você das minhas memórias. Depois de tanto tempo parece que seria natural não pensar mais em você. Mas isso nunca me pareceu certo. E hoje, mais do que nos outros dias, estou acostumado a pensar em você. Tente entender, me escondo nas lembranças daquela época, e nos diálogos que poderiam acontecer se nos encontrássemos por acaso. Você se mostrando linda e travessa e eu provando minha maturidade e meus hábitos antigos. Com uma convicção absurda, eu sempre soube que todas as coisas iriam ficar bem. E hoje, mais do que nos outros dias, preciso ter essa convicção absurda. É óbvio pra mim, mas talvez não seja pra mais ninguém quero que as coisas voltem a ser tranquilas como eram antes, quero que meus problemas sejam simples como um amor mal resolvido, mal correspondido, mal realizado. Parece ingratidão com tudo o que eu tenho, desejar sofrer desse mal, mas a vida de gente grande tem fantasmas e monstros muito maiores do que esperar você responder minhas mensagens. Tenho sentido falta desse sofrimento bobo, que por mais doloroso que seja, vai ser sempre considerado bobo. Sinto falta de pensar no amor como uma história dessas inabaláveis, onde tudo é lindo e a poesia surge sutil entre os diálogos, sinto falta do romantismo dos meus textos teus, e de como sofrer por amor me parece mais bonito do que qualquer outro sentimento. Nessa época eu tinha pouco mais de 30 anos, e você em torno de 20.

Entenda que eu preciso fugir um pouco dessa vida que eu tenho agora, dos problemas tão impossíveis e de toda dor que estou sentindo, e nada me parece tão certeiro como mergulhar naquela dor que eu já senti e sei que passa, entende? Eu conheço a dor de não ver você chegar, e, mais do que tudo, sei que passa. E a única coisa que eu preciso agora é saber. Sei também que você nunca se importou de ser usada, e que não vai se ofender se eu usar as minhas lembranças pra esquecer um pouquinho a realidade. Entenda também, que mesmo mergulhado nas suas lembranças, não sou ingênuo de querer você aqui comigo, você não é companhia dessas de ser ter sempre, sou sincero. Você existe, e vive plena só com liberdade. Se eu te encontrasse hoje, assim por acaso e depois de tanto tempo, eu fingiria que não continuo te achando linda, pra te impressionar, mas eu não conseguiria sustentar isso por mais de dez minutos: hoje sou alguém bem menos impressionante. Vira e mexe eu saio de casa, nesses dias frios, mal  arrumado, com uma expressão de cansaço contínuo, e não me espanta o fato de que as vezes suspiro aliviado por não ter que fingir estar bem. Como eu disse, as coisas estão meio turbulentas agora, 30 anos após de dizer, e você concordar que seria inesquecível. Mas me perder naquelas lembranças sobre nós e sobre como éramos servem perfeitamente de distração. Você me fez aprender que poesia não é perda de tempo na vida, é valorizar o tempo vivido, com a certeza de que o Amor é Revolucionário!

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