sábado, 23 de abril de 2022

(NOS) SALVE JORGE!

 


Ontem eu chorei pelo carnaval de abril.

Choro de quem vê o salgueiro e se sente vermelho de vergonha.

Choro de quem gosta de samba e se sente ruim da cabeça.

Choro de quem não se ilude com a dor que chega forte como a mão que toca o violão, mas que não consegue mais fazer o hino.

Choro de desespero de se sentir ameaçado, mais uma vez.

Outra separação.

Mais um carnaval perdido, na doce ilusão do rio que passou na minha vida.

Um rio de lágrimas.

Um rio que não percebe como estão as suas margens.

Ontem eu chorei pelo carnaval.

Pelas mortes comemoradas na avenida.

Pela hipocrisia da alegria que está voltando.

Pela mãe que perde a filha.

Pelo golpe que nos espera na praça da apoteose, na terça feira gorda.

Ontem eu chorei por todos nós.

Filhos de uma pátria quase amada, que se perdeu nas mãos dos carrascos e dos iludidos.

E se ontem eu não chorasse,

Se ontem eu não me desiludisse.

Hoje eu não seria eu.

Hoje eu não pediria ao Santo proteção.

Hoje Jorge não se ergueria a me dizer

“Vai filho, desafinar”.

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