quinta-feira, 23 de junho de 2022

A dor da fome



Estamos chegando a um ponto de exaustão preocupante. O Brasil chegou. Nós, boa parte dos brasileiros, que tem o mínimo de empatia, chegamos. Ninguém suporta viver sob um governo fascista que afronta diariamente as instituições, que aposta no caos e que, dia a dia, se esmera em grosserias e atitudes golpistas e antidemocráticas.

Hoje, a vida passa como num filme barato de terror. Para sobreviver a tanta ignorância ou aprendemos a desenvolver uma saudável sensação de ódio — que desopila as veias —, ou nos desligamos um pouco da realidade. A convivência com o baixíssimo nível do governo federal funciona como o que ocorre num estado de pré-infarte: um entupimento lento e progressivo antes da obstrução fatal do fluxo sanguíneo. Também nós cidadão lúcidos nos vemos sendo corroído por dentro, em nossas entranhas; sentimos que o corpo já não suporta mais tanta bestialidade institucionalizada. O sadismo e a desfaçatez do Chefe da nação viraram rotina, na qual a vulgaridade é a regra.

Nesta semana, uma cena chocou; não só a mim, mas a todos que ainda conseguem manter um pouco de indignação com a barbárie. Um jovem — que havia sido preso por ter furtado um celular e ter devolvido o aparelho à vítima —, teve sua prisão revogada na audiência de custódia. Para surpresa, tristeza e perplexidade, o cidadão fez uma súplica à juíza que presidia a audiência: "a senhora deixa eu ficar preso até a hora da janta? Senão eu posso cair na rua de fome." A falta de qualquer perspectiva doi. Estou acostumado e gosto de  ver a notícia da liberdade comemorada com intensidade máxima e absoluta. Mas a fome é maior, mais forte do que até mesmo a liberdade. 

O medo da fome. 

A memória da fome. 

A dor da fome. 

O desespero da fome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário