terça-feira, 28 de junho de 2022

DE NERUDA A DRUMOND (Nem Tanto)

Apagar você


Eu não sabia que meu corpo tinha uma memória num contra-tempo  alheio ao relógio.

Basta um toque e lá vamos nós de novo: do delírio ao gozo em poucos minutos.

É irritante a combinação de cinismo e encanto. Nunca poder confiar no seu sorriso, precisar e sucumbir a ele.

É uma espécie de jogo sem vitoriosos: acabamos com o coração partido, exaustos, e sem possibilidade de remendo.

Você nunca será capaz de me elevar, e me fazer sonhar uma realidade possível.

Teus lábios vivem impregnados de passado. E isso é demais até pra mim.

Eu não quero ser a aposta que consola sua solidão, nem o conta-gotas pra sua sede de afeto.

Chega de dançar pisando nos meus próprios pés, tentando me equilibrar para acompanhar seu ritmo caótico e desvairado.

“Os amores mais bonitos são aqueles que nunca foram usados”, já disse Neruda.

Cansei dos teus longos silêncios, de todo esse medo disfarçado de mistério e pretensa apatia.

É só muito esforço pra parecer indiferente ao que você sente.

Apagar você é uma missão suicida, quase como sair de um espelho e ver a minha própria morte, ali refletida.

Como quebrando "Tanto amor em mim, em ti nem tanto" já disse Drumond.


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