sexta-feira, 3 de junho de 2022

Minha Doença

 


Há um fosso profundo que separa cada vez mais boa parte dos brasileiros. A pobreza aumenta assustadoramente - com um número absurdo de pessoas morando nas ruas em uma condição degradante, sem  mínima dignidade -, e por incrível que possa parecer, cresce assustadoramente o número de pessoas que atiça o ódio pelos sem-teto.

Os condomínios e os prédios dos "gente de bem" cercam-se de segurança contra o “perigo” dos pobres. Para essa gente de bem, a miséria tem cor e cheiro. E o cheiro da pobreza tem que ficar longe e fora das ilhas de segurança; hipocrisia e maldade. A separação acontece de maneira cruel, sórdida e direta. Enquanto lutarmos na busca por um país igual e justo, "eles" são cada vez mais representantes das milícias.

O início é a visão primitiva, desumana e cruel de que  pobre e negro é um ser a ser abatido. 

A crueldade da recente chacina no Rio, na Vila Cruzeiro, evidencia a postura rigorosamente fascista que tem sido a regra do sistema de repressão do governo bolsonarista. É o segundo maior massacre em número de mortos - foram 25 pessoas -, perdendo apenas para a do Jacarezinho, com 28. Mas a lógica é a mesma: a ordem é executar. É a política do “tiro na cabeça”, do Witzel, e do “direito de matar”, do fascista do Moro.

Mesmo quem não concorda com os princípios  humanista tem a obrigação de se posicionar sobre essas execuções sumárias. Quem concorda, são cúmplices nos óbitos dos brasileiros executados. Bolsonaro aplaudiu a morte que ele chamou de “bandidos, marginais”; e ainda criticou aqueles que são contrários a essa política de extermínio.

Ele deveria se poupar mais e ter mais cuidado. Em pouco tempo, após a vitória do Lula no primeiro turno, os verdadeiros marginais estarão, como estão, sentados à mesa com ele, respondendo pelos inúmeros crimes praticados ao longo dos últimos anos. Só que sem a proteção da Presidência da República. E aí, podem ter certeza, seremos nós, os defensores “idiotas” dos direitos humanos, que iremos garantir a eles o amplo direito de defesa e o  respeito à Constituição - essa coerência pode ser chata, mas é ela que mantém a civilidade.

Assistimos ao horror do assassinato do Genivaldo pelos policiais rodoviários, praticado com requinte nazista de execução – usaram uma câmara de gás -, e com deboche. É preciso mais do que apenas sofrer junto com a família e os amigos. A resposta tem que ser única, direta e firme. Foi um assassinato frio e cruel, filmado e presenciado por inúmeras pessoas, e durante o dia e sem escamotear. A resposta tem que ser proporcional ao descaramento dos policiais! Foi um sinal claro de que a barbárie não precisa mais se esconder.  Uma provocação.

A sociedade que assiste calada a um ato brutal como esse está aprovando os métodos daqueles que, tendo como herói um presidente apologista da tortura, saíram do armário e estão espalhando orgulhosamente o terror. 

A minha mágoa é tão intensa que eu penso que a alegria é uma doença e a tristeza é minha única saúde!

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