quinta-feira, 16 de junho de 2022

NÃO ME RECONHEÇO.



"Toda vez que um justo grita

Um carrasco o vem calar

Quem não presta fica vivo

Quem é bom, mandam matar".

Cecília Meireles, em Romanceiro da Inconfidência.


Os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, na floresta amazônica, é o retrato de um Brasil que , envergonha. É como as mortes dos negros nas favelas pela milícia e pelo tráfico. É como as mortes das crianças no Brasil, onde 33 milhões de "vivem" da fome. É o retrato de um governo fascista que entregou a Amazônia para o garimpo, para os desmatadores, para o tráfico, e que incentiva e promove a genocídios nas florestas, no campo, nas periferias das cidades.

Nós já não reconhecemos o Brasil. A estupidez do "presidente" da República nos afasta de qualquer hipótese de identificação. O fascismo é um ácido, que destrói tudo e corrói a hipótese de esperança. Bestificaram o combate à pandemia, vulgarizaram a Cultura, a Ciência. As cores verde e amarela foram roubadas como forma de nos afastar de uma ideia de nação.

O entreguismo e a degradação precisam de terra arrasada, e isso é  uma estratégia. O ideal para esse governo é ter o não debate, a não política, a cizânia no dia a dia, a divulgação de notícias falsas e as  tentativas de rompimento institucional. A afronta ao Poder Judiciário e a submissão do Poder Legislativo que, com os cofres abertos, abre mão do seu papel constitucional. E nós, vamos tendo acesso a uma política insana de armamento e o fim das políticas sociais maquiado com a indústria de fake news. É o caos.

O "presidente" da República, foi insensível e sádico com os mais de 660 mil mortos pelo coronavírus, amigos e desdenhou da dor dos que perderam seus parentes e amigos queridos, tem o direito de dizer que o jornalista inglês e o indigenista brasileiro foram “imprudentes” ao saírem para fazer seus trabalhos numa floresta que deveria ser nossa. Na verdade, o que esses responsáveis diretos pela destruição da Amazônia querem é nos, é afastar das florestas os indigenistas que conhecem a região e seus dramas.

Por que o Bruno Pereira foi demitido da Funai na gestão do Moro quando ministro da Justiça? Era uma opção de esvaziamento dos que conheciam a questão indígena na Amazônia? Era um seguimento  de “passar a boiada” anunciada pelo ex ministro Salles? Não seria hora de convocar no Congresso Nacional o ex-tudo Sérgio Moro para explicar? Agora que ele anda rompido com o governo e desmoralizado, talvez resolva falar e fazer algo útil.

Mais uma vez estaremos expostos ao ridículo. A nossa imagem internacional é constrangedora. Viramos um país pequeno, tão ridículo, que o presidente da República vai lamber as botas do presidente dos EUA para pedir ajuda nas eleições. E anuncia dia após dia a hipótese de uma ruptura institucional. Um golpe. Uma vergonha que só não constrange os bolsonaristas pois eles não tem  senso do ridículo.

As mortes de Dom Phillips e de Bruno Pereira estão tendo  repercussão internacional, o jornalista é inglês e trabalha no jornal britânico The Guardian. No Brasil, o extermínio de 25 brasileiros negros numa ação policial na favela não ocupa o noticiário. A morte do pobre e invisível foi banalizada. A morte de brasileiros pela polícia, pela milícia, pelos garimpeiros, pelo tráfico não é notícia que mereça destaque na imprensa e não ocupa espaço na agenda governamental.

Mas, para quem tem complexo de vira-lata, o assassinato de um grande jornalista, branco, de um respeitado jornal inglês, vai dar voz ao desespero dos brasileiros que sentem que estão perdendo sua pátria para esse bando de milicianos que já se infiltrou até nas Forças Armadas. É o que espero!

Que o drama dos dois jogue luz neste país que se encontra à deriva, às cegas, onde o compromisso com a dignidade e com a vida humana não é nem colocado como opção. Eles optaram pela barbárie e se orgulham disto. Vamos resistir e lutar para ter o Brasil de volta.

Como já escreveu João Cabral de Melo Neto, em Morte e Vida Severina: 

“E se somos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre, de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia".

Acrescentaria: de fraqueza e de doença, é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida).

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