domingo, 6 de dezembro de 2020

L E M B R A N Ç A S

 

    

Acordei com saudade da minha mãe. Com muita saudade. Há fotografias em mim dos momentos mais preciosos de nossas vidas. Enquanto eu estiver, ela estará. Jardinei as lembranças de risos e de dias difíceis e fui colhendo aconchegos.

É cedo e o dia já não oferece calor. Abro e fecho os olhos, conversando com os meus alívios. Nos meus pensamentos, rabisco poemas. É um jeito meu de escolher sentimentos.

Penso nos últimos dias com ela. O beijo que dei, antes do cair daquele dia, desse mundo finito, era o último.

Sei que há partidas e que elas nos partem.  Partido fiquei. Partido estou. Prossigo os meus dias trabalhando na semeadura de um mundo melhor. Como deve ser a rotina de todo vivente. É por isso que somos únicos. E é por isso que um dia nos despedimos e vamos ao encontro do que desconhecemos.

Não conheço o sol, mas sei que ele existe. Sinto sua luz e me guio pela sua presença. Experimento o sagrado sem no sagrado tocar e, também, a saudade e, também, os êxtases que me tomam quando sou capaz de amar alguém.

Nem tudo é tato ou paladar ou visão ou audição ou olfato. E me vejo ouvindo e acreditando no eterno. Então toco no meu corpo que fica, enquanto fico. Um dia, corpo não terei. Como minha mãe não mais tem. O dia em que não mais estarei é um pensamento que me ajuda a viver o dia em que estou. O dia em que estou é um dia de saudade e é um dia sem sol.

Tenho a disposição suficiente de limpar de mim os reclamos desnecessários, de me banhar de despreocupações, de me vestir de humanidade e pisar com decisão a terra onde me cabe andar.

Encontro pessoas e encontro sentimentos. sei que existem terraplanistas, seres que não acreditam em pesquisas para criação de imunizantes para o mal atual, desejo que para esses haja uma epidemia de vírus humanizante. afinal, nem todos me são agradáveis. Mas convivo. Empreendo a dura batalha dos discernimentos. Não é em todo colo que deito minha história. Saudade do colo de minha mãe. Nele eu me ajeitava sem desconfianças.

Nos textos que escrevo, penso nas crianças e na criança que vive em mim. E que me surpreende quando permito. E que me faz dançar mesmo nos dias surdos.  É primavera, sim. E eu vou caminhar. Passarei perto de sua rua, talvez até nela. A saudade irá comigo poetizando a vida.

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