sábado, 29 de outubro de 2022

ESSE ELE (Seria eu?)



Sentado lembrava dos olhos adocicados que olhavam para ele na noite passada. Escrevia os versos como se os lábios dela cheirassem a sua poesia. No papel em que sua mão escrevia gostaria de colocar todos os sentimentos transgredidos a partir daquele olhar. Alguma coisa o fuzilava para que dos seus dedos brotassem palavras, frases, versos e música. Sentia que cada letra que escrevia era como se estivesse tocando uma melodia. Das lágrimas que saiam daquele olhos na noite anterior conseguia compor toda a situação. Não esperava que em nenhum momento dependesse da fidelidade dela para ser feliz, só queria lembrar todas as imagens que teve durante todo o tempo em que se conheciam. Deixou de ser, e de acreditar em si mesmo. Vivia com a convicção de amadurecer na pessoa da outra. Soube perceber o tempo que errou, mas também o espaço em que foi julgado. De um modo aparentemente inesperado seu coração bateu forte ao perceber uma gota caindo na folha de papel. Das mesmas palavras que escrevia, ou tentava, queria que virassem notas musicais e introduzissem nos ouvidos dela um abraço. Não queria vê-la mais  em lágrimas, apenas sorrindo. Não sabia o desespero que precisava alcançar para melhorar a sua poesia. Martelava no papel como se ela tivesse que sair à força, a fórceps. Angustiava-se por não conseguir. Mas sábio era o momento em que conseguiria. Sabido era a hora e o tempo em que bateria no ouvido dela seus sentimentos. Pensou em largar tudo, naquele momento, sair à rua e chegar mais que atazanado e correndo ao ouvido dela para dizer uma simples palavra ou frase. Não deixaria escapar nenhum tempo. Mas ao bater pela última vez no papel pôde perceber que o tempo acabou-se e o que era feito, foi-se.

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