quinta-feira, 13 de outubro de 2022

 


Um amigo alertou-me de que meus textos têm sido muito fortes e com demasiadas críticas ao governo Bolsonaro, especialmente contra a hipótese de reeleição desse grupo de predadores culturais e civilizatórios. Reconheço que, quando comecei a escrever, há muito tempo, que estas eleições definiriam se o Brasil optaria entre civilização ou barbárie, eu mesmo acreditava estar usando uma permissão literária para chamar atenção e provocar uma reflexão.
Infelizmente, a realidade superou muito a provocação e o país caminha para uma hipótese de ruptura institucional, um buraco sem fim no qual a barbárie, talvez, seja uma leve definição do caos. Em 2018, o grande escritor Angolano, José Eduardo Agualusa, escreveu intrigante e verdadeira crônica sobre “O novo rosto do Brasil no mundo”. E disse, com elegância, que, dependendo do resultado daquelas eleições, a imagem do Brasil no mundo sofreria danos irreparáveis. Ele estava sendo gentil, nós agora já ocupamos um espaço destinado à mediocridade e à obtusidade.
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O que as próximas eleições definirão é se teremos a oportunidade de salvar o Brasil do buraco sem fim que o Bolsonaro cavou para o povo brasileiro. Se vamos conseguir resgatar a cultura, salvar a saúde, recuperar a economia, dar vida à ciência e, principalmente, garantir a dignidade de nenhum brasileiro passar fome em um país que alimenta o mundo. Tínhamos saído do mapa da fome da ONU em 2013, agora voltamos vigorosamente - são 33 milhões de pessoas em estado famélico.
Se esse grupo fascista tiver mais 4 anos de desgoverno, o Brasil será rebaixado a um país que envergonha o mundo e as pessoas civilizadas.
É óbvio que não existem 50% deles no Brasil. Não é disso que se trata. Os fascistas são os idealizadores e os estrategistas do caos: egoístas, desumanos e sem nenhuma empatia ou preocupação com o outro; racistas enrustidos, dinheiristas e extremamente maus, sem a capacidade de sentirem a dor dos seus semelhantes. A grande massa, infelizmente, apenas os segue, como se fosse um rebanho, tangida por um berrante imaginário.
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O individualismo é uma praga nessa sociedade de hipócritas, na qual o negro, o pobre e o invisível estão tão à margem que o que os fascistas fazem é apenas cavar o fosso ainda mais fundo. E erguer muros impenetráveis para que essa elite podre e inculta não possa ver o que está por trás deles e nem sentir o cheiro do povo. É uma divisão simbólica que destrói as bases civilizatórias da sociedade brasileira.
Nesta semana, conseguimos uma grande vitória no Supremo Tribunal Federal e devolvemos à Câmara Municipal o vereador negro Renato Freitas, que havia sido cassado por ser negro. Por racismo estrutural e por não se sujeitar a cumprir os ditames dos colegas vereadores racistas.
Não devemos nos esquecer de que o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, que coordenou nos bastidores a cassação de maneira covarde, é o mesmo que disse ter vomitado quando um pobre entrou em seu carro, pois não suportou o cheiro da pobreza.
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Precisamos tomar o Brasil de volta pelo voto e derrubar o muro que eles ergueram em cima deles. Vomitar, de forma azeda, nessa gentalha que tem horror a qualquer tipo de inclusão social. E fazê-los conviver com o povo maravilhoso que voltará a ter lugar à mesa, com acesso às nossas universidades, à cultura, à saúde e à vida. Não precisamos nos contentar com as migalhas. Vamos ocupar a casa grande, abrir as porteiras e derrubar as cercas. Com Lula na presidência, o rio voltará ao curso normal e as águas, mesmo tormentosas, continuarão a correr para o mar. Um oceano onde todos são iguais e com possibilidades de, com igualdade de oportunidades, voltarmos a paz social.
Em novembro, o Brasil, eu espero, vai acordar nordestino, com todas as cores, sons, cheiros e sotaques que isso significa. E, depois de acordar nordestino, vamos nos abraçar tornando a ser um povo só, sem a divisão implementada por esses crápulas.
Assim, poderei voltar a escrever textos poéticos e leves em sintonia e em homenagem ao Brasil que vamos ter de volta.
Lembrando-nos do poeta nordestino Trasíbulo Ferraz, no poema A Orgulhosa:
“ A sorte dá, nega e tira.
Sangue azul, avós fidalgos,
Já neste século é mentira.
Todos nós somos iguais;
Os grandes, os imortais;
Foram plebeus como eu sou.” 
 Por que as famílias incentivam seus filhos a torcer pelos times de futebol, os fazem crescer e defender suas crenças religiosas, mas política é assunto proibido? Isso é um equívoco e frustra as crianças, que muitas vezes gostariam de ter espaço para externar seus pensamentos.

Um estudo realizado pelo Instituto Qualibest com 120 crianças de 07 a 12 anos de São Paulo e Rio de Janeiro, aponta que parte delas tem uma compreensão política bastante apurada, embora metade das vezes as informações que recebem são de maneira indireta.

De acordo com a pesquisa, as escolas não tratam de política com as crianças, deixando essa responsabilidade para a família. Os pais, por sua vez, também não conversam sobre o assunto com seus filhos – metade das crianças entrevistadas disse ouvir sobre política nas conversas dos adultos entre si, ou em comentários informais.

Outro dado interessante apontado é que cerca de 60% das crianças estão sempre atentas às informações que as cercam, embora os pais e a escola não falem com elas de política. E olha que interessante: elas expressaram vontade de emitir suas opiniões. Isso só reforça a tese de que política deve sim ser tema de sala de aula e das conversas familiares.

Claro que se trata de um estudo reduzido, com crianças de cidades grandes da região Sudeste, uma pequena fração do nosso vasto e diverso país. O resultado representa, no entanto, um passo importante no sentido de dar voz aos pequenos, tratando-os como os cidadãos que são.

Não devemos menosprezar o fato de que a garotada tem personalidade e a maioria percebe, por exemplo, que o país vive um ambiente de polarização como jamais visto. Não falar do assunto em casa e na sala de aula pode gerar dúvidas e angústias. Por isso é tão importante levar informações embasadas e incentivar que reflitam sobre o momento atual.

Conversei com alguns professores para avaliar se os dados refletem, de fato, a realidade. Alguns confirmaram que o assunto não é abordado, outros relataram que os colégios onde trabalham tratam de política sem aprofundamento, alertando sobre corrupção, falando de leis, democracia, cidadania e importância do exercício do voto.

Um exemplo interessante é uma escola particular da Zona Sul do Rio, que trata as eleições para representante de turma como um legítimo processo eleitoral. Os alunos lançam suas candidaturas, fazem campanha, apresentam propostas aos demais colegas, discursam para a turma e, ao final, é feita a votação com uma urna que tem até as fotos dos candidatos. É uma experiência bem interessante.

Enfim, fomentar o debate só traz vantagens, na minha opinião. A educação é a base da formação do caráter e do reposicionamento do cidadão na sociedade. Se morar, comer, dormir, brincar, estudar, enfim, viver... Tudo é política, então por que não introduzir o assunto na base? A qualidade do político de amanhã depende daquilo que ensinamos às nossas crianças, hoje.

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