quinta-feira, 7 de julho de 2022

Em nome de Deus?



"O racismo é um vírus que se transforma facilmente e, em vez de desaparecer, se esconde, mas está sempre à espreita." Papa Francisco

O Brasil vai cada dia mais se desumanizando com o fascismo instalado pelo governo Bolsonaro. Muitas vezes, são os detalhes que demonstram nossas fragilidades e nossas hipocrisias.  Quando surgiu na política do Brasil a liderança do Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo: um operário chamado Luiz Inácio Lula da Silva. A greve coordenada pelo líder dos trabalhadores que desafiou a ditadura militar, que foi instalada. O movimento durou 41 dias e mobilizou mais de 200 mil trabalhadores. O governo ditatorial fez uma intervenção federal nos sindicatos e obrigou a demissão dos operários. A Igreja Católica não só se posicionou contra as demissões sumárias, como abriu a Igreja para abrigar as reuniões dos trabalhadores.

A presença dos trabalhadores no templo não significava nenhum abuso; quem o desrespeitava era a repressão ditatorial, que prendeu um sindicalista dentro da sacristia.

Era a Igreja abrindo as portas para acolher, abrigar e proteger aqueles que ousavam se insurgir contra os poderosos e contra a tirania. Penso que esse é o sentido e o principal motivo, talvez até o único, da existência dos templos religiosos. Cuidar da alma e das dores pode ser feito até sem a presença física das capelas; mas, usar o espaço religioso como abrigo contra a repressão, aproxima aquele que não crê e que não professa a fé do trabalho e da importância da Igreja. Falo isso em homenagem ao Dom Valdir e outros.

O uso político, indevido e cruel, por um grupo racista de Curitiba, da pretensa invasão de um templo católico, após a missa, por ativistas políticos, entre eles, o vereador negro Renato Freitas. Um caso de preconceito explícito usando o nome da Igreja Católica. Hipocrisia.

Eles ingressaram, inclusive o parlamentar do PT, de maneira  pacífica na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos - tradicional lugar de acolhimento dos negros -, após um protesto em razão bárbaro e covarde assassinato do congolês Moise. O grupo entrou pelas portas que estavam abertas. Os supremacistas brancos de Curitiba, que não suportaram a presença de um negro e pobre, mas não humilde, nas dependências da Câmara dos Vereadores, encontraram um motivo para cassá-lo e tirar seus direitos políticos. Mesmo a Arquidiocese de Curitiba manifestou-se contrária à cassação, porém, posicionou-se a favor de "medida disciplinadora proporcional", em grave divergência com o espírito cristão do grande Dom Valdir e outros, que acolheu os perseguidos.

O vereador Renato, tá sendo vítima desse verdadeiro estupro à democracia: a tentativa de cassar o mandato e os direitos políticos desse jovem negro e muito digno que representa a parte não racista da sociedade curitibana. 

Precisamos, e seria o ideal debater mais fortemente a questão do racismo, pois a decisão  de destituição do cargo é do Legislativo, respeitados os direitos  do vereador. À democracia, enfim.

O que realmente me encantaria seria discutir o racismo estrutural desse grupo fascista, que se empoderou com esse governo que despreza e zomba dos direitos políticos e humanos. O fascismo alimenta o racismo e eles se completam. É importante discutir o papel da Igreja nessa hora de barbárie institucionalizada. A Igreja que eu quero e que eu respeito é a de Dom Valdir: a que acolhe os oprimidos e que vive na prática a solidariedade pregada por Jesus Cristo.

Onde persistir o racismo, o desprezo e o ódio ao negro, não pode existir a presença de nenhum Deus, não pode existir Igreja e muito menos democracia.  Quando se fica neutro em situações de injustiça, estamos escolhendo o lado do opressor.

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